8M: mãos dadas por Gaza, contra o bolsonarismo

8M: mãos dadas por Gaza, contra o bolsonarismo
Arte por Giuliana Ododuá

Por Sonara Costa, publicado em 01 de março de 2024

“Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
(…)
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente."

Estamos a oito dias do maior evento do calendário feminista internacional. Diferente da grande maioria de seus pares, que repetem sempre o mais do mesmo de eras passadas, as feministas souberam atualizar sua forma e seu programa de acordo com o espírito do século XXI.

No mundo todo seus atos são inclusivos, alegres, explosivos. Aprendemos lições e desde a primavera feminista lutamos contra o atraso, que teima em nos dividir, e buscamos aliar o melhor dos métodos da classe trabalhadora com uma leitura esperançosa da realidade, propondo saídas com lentes feministas.

Soubemos aliar arte e política. A alegria dos atos em nada diminui sua combatividade, pois num mundo hostil a esperança e a solidariedade curam as feridas das combatentes.

Não à toa todas as plenárias do 8M pelo mundo têm debatido, há meses, a luta em defesa do povo palestino nos atos desse ano. Chile, Argentina, Espanha, Inglaterra, EUA, Itália, Quênia incluíram a denúncia da brutalidade de Israel e o genocídio em curso em Gaza em seus manifestos.

No caso do Brasil, se a morte de mulheres e crianças assassinadas famintas já não despertasse o amor necessário, ainda temos Jair Messias Bolsonaro.

Olhos desatentos poderiam absolver o ex-presidente dessa tragédia. Não! O bolsonarismo se alimenta semanalmente de cultos de doutrina nas igreja neopentecostais, onde multidões de fiéis da classe trabalhadora ouvem do púlpito a promessa de Deus a Israel - a Igreja de Cristo - e os pactos, promessas e profecias do Todo-Poderoso que a preparará para a segunda vinda do Messias.

Nessa visão a terra palestina foi dada a Israel pelo próprio Deus. O direito divino da posse de Israel sobre o território é incontestável. A volta do cativeiro babilônico para “seu” território inicia a disputa dos “guerreiros israelenses” pela sua terra com outros povos. A memória dos antigos heróis bíblicos, constantemente explorada por Netanyahu, é apresentada como verdade inconteste. E aqui entra outra característica do bolsonarismo: o ataque à grande imprensa. A indignação com a cobertura da mídia acusada de distorcer a santidade do direito israelense de seu “retorno à pátria”.

O genocídio protagonizado pelo Estado de Israel mais do que justificado, é santificado. A luta contra os crimes do Estado de Israel se torna uma luta “contra o Deus de Israel”. Análises bíblicas contra análises políticas. Luta ideológica cotidiana.

A visão de mundo neoconservadora há muito se deu o objetivo de se transformar em ativismo mobilizador, em busca da construção de uma sociabilidade e autoridade moral reacionárias. Não à toa o ato em defesa de Bolsonaro, no último domingo, pintou as ruas com bandeiras de Israel.

Diante disso, certamente o ideário pentecostal é um motor do bolsonarismo. A luta contra o peso de massas do fascismo, assim como suas tentativas de golpe contra as democracias no mundo, precisa ser encarada em toda a sua complexidade.

Nesse momento há um genocídio em curso apoiado pelo fascismo do mundo todo. Portanto, a principal tarefa do movimento feminista é se colocar na linha de frente da defesa da vida de mulheres e crianças palestinas. É por isso que a defesa de Gaza está lado a lado da resistência contra os governos de extrema direita e a retirada de direitos nos 8M de vários países.

A essa altura os motes da maioria das plenárias do 8M brasileiro já foram definidos, mas nada nos impede de tremer de indignação diante da injustiça do mundo e fazer coro com o movimento feminista internacional que chama uma greve global por Gaza.

Essa luta também é nossa, de todas as formas possíveis.

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