Anacrônicos são os outros: sobre frente ampla e neofascismo
Publicado por Felipe Demier, em 20 de março de 2024.
Há em curso nas organizações da esquerda socialista, em especial nas que atuam no interior do PSOL, uma elaboração de que, em um cenário de "muita derrota" e de muito "atraso subjetivo" da classe trabalhadora, pouco disposta à luta, o combate à extrema-direita, tido como a principal tarefa do atual período histórico (caracterizado pela inexistência de uma alternativa revolucionária e da URSS) deveria ser feito por meio de uma nova estratégia. Sim, os tempos são outros - sempre o são, não? - e muitas mediações entre os clássicos escritos políticos de outrora e a realidade atual se fazem necessárias.
Ocorre que esta tal nova estratégia, supostamente elaborada à medida para o tempo presente, não é assim tão nova, posto que não vai muito além da velha forma das frentes populares ou mesmo frentes amplas, propugnadas há quase cem anos pela social-democracia e pelo estalinismo depois de encerrada a política do "terceiro período". Assim, curiosamente, muitos do que se arvoraram em acusar de anacrônicos os defensores da perspectiva da frente única ao estilo de Trotsky (o que incluía críticas abertas aos reformistas, centristas e sobretudo aos governos de colaboração de classes) para enfrentar este algo novo, o neofascismo, são os mesmos que recorrem, eles próprios, a uma estratégia centenária, e que comprovadamente falhou. Pode dar certo agora? Pode. Mas...
O que se pode afirmar com algum grau de certeza é que pra quem quer traçar uma "longa marcha pelas instituições", ou melhor, pelos gabinetes parlamentares, a junção de um particularismo identitarista cada vez mais distante do léxico marxista e mais próximo do BBB com um semi-governismo lulista ("o Pai tá on!") justificado sob o argumento de que "o bolsonarismo é muito forte, logo não podemos falar o que achamos sobre o atual governo" parece ser uma boa fórmula para o sucesso.